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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

[ORÇAMENTO DE OBRAS] - Comparativo Alvenaria de Tijolo x Drywall

O brasileiro tem uma característica bem enraizada sobre o consumo de produtos e serviços: nos apegamos à poucas marcas, modelos e, na construção civil, à poucos métodos construtivos existentes.

E o que isso quer dizer?

Significa que novas técnicas construtivas tem certa dificuldade de se estabelecerem em nosso país, muitas vezes levando até décadas para se tornarem levemente populares. Pelo o que eu percebo, o que mais causa esse efeito é o tabu gerado em torno dessas técnicas, como "Esse serviço é mais caro" ou "Essa técnica não deve ser segura" e ainda pior "Faço desse jeito há trinta anos e sempre deu certo".

Com o drywall não foi diferente e até hoje esse sistema construtivo engatinha nas obras brasileiras, enquanto lá fora, em países desenvolvidos principalmente, é muito utilizado.




  • O que vem a ser o Drywall?
Já destaco que nesse artigo irei utilizar dados e informações retiradas do meu TCC realizado em 2012, com o tema "Estudo Comparativo sobre Características Físicas e Financeiras entre Drywall e Alvenaria de Tijolo Cerâmico". Nesse trabalho de conclusão de curso realizei um comparativo teórico e prático, usando uma obra real, com dados reais, sobre qual desses sistemas de vedação seria o mais viável financeiramente e construtivamente. Os resultados eu vou apresentar ao longo desse artigo.

Caso queira ler o TCC na íntegra, clique aqui.

Por muitos anos, ao longo da história, as paredes de vedação eram feitas artesanalmente apenas. Não existia um método industrial que padronizasse este processo de execução, o que tornava lento uma grande etapa da obra. Ao final do século IX, em 1895, nos Estados Unidos, um novo elemento construtivo estava sendo criado: o gesso acartonado. (Mitidieri, 2000).

Apesar de ser um sistema antigo (com o uso do WoodFrame) o drywall começou a ganhar mais popularidade após a inclusão do gesso acartonado no seu conjunto. Atualmente, no Brasil, existem quatro empresas que fabricam gesso, são elas: a Knauf, empresa alemã; a Lafarge, também alemã; Placo, uma empresa francesa; Trevo Brasil, a mais recente de todas.   Com esta variedade, o mercado se tornou muito competitivo e várias opções de preços são encontradas pelo o país.


Quase um século depois do gesso acartonado, era lançada no mercado a placa cimentícia. Usada praticamente nas mesmas funções do acartonado, mas com a vantagem de não levar gesso em sua composição e sim cimento, como sugere o nome. Este aspecto agradou muito, pois poderia se executar a obra com velocidade e não apenas em áreas protegidas da chuva. 

Parede em Gesso Acartonado
Fechamento em Placa Cimentícia
Placas de gesso verde Resistente à Umidade (RU):
Tentando amenizar o problema das placas de gesso com a água, foi criada a placa RU, resistente à umidade. A princípio, percebe-se sua diferença em relação ao modelo Standart já pela a cor do papel cartão, no qual é verde. A diferença também se encontra nos hidrofugantes presentes em sua composição, geralmente de silicone, no qual permitem uma resistência temporária à água. (Ferguson, 1996).

O problema constante está na sua interpretação quanto à resistência à umidade. Muitas pessoas confundem e a substituem no lugar da placa cimentícia, trabalhando com áreas externas. No entanto, a RU resiste apenas à umidade e não à exposição constante e em grandes quantidades de água. Sendo recomendável seu uso em banheiros, cozinhas, refeitórios, ou qualquer outro lugar que possa, por ventura, vir a receber umidade.

  • Alvenaria de Tijolo 
Segundo Martins, 2009, o tijolo cerâmico possui seu formato em paralelepípedo e uma coloração avermelhada. Muito usado na construção civil, é um dos principais componentes empregados nas edificações. Não apenas como elemento de vedação interna, mas também como externa, o tijolo vem sendo usado desde antes de Cristo e foi se desenvolvendo ao longo da história.

No Brasil, é o principal elemento de vedação e possuí diversos tamanhos e furos. Atualmente, o tijolo ecológico vem se destacando no mercado, por possuir diversas vantagens em relação ao tradicional, como: economia no custo final, economia em madeira, ferro, fácil acabamento, entre outras.
Seu assentamento pode ser em meia vez ou uma vez (Figura abaixo) e cada qual possui uma função específica, seja estética ou de resistência (Martins, 2009).

Alvenaria de tijolo 1 vez e 1/2 vez. Fonte: Edmundo, 2010.

  • Sobre a obra abordada neste trabalho
Após uma breve introdução sobre os elementos aqui comparados - lembrando que caso queira ler mais detalhes basta acessa aqui -, vamos dar uma breve analisada na obra utilizada como estudo de caso para o comparativo em questão.

Para efetuar o comparativo em questão, será utilizado como base de cálculo o projeto arquitetônico de uma edificação comercial, localizada na av. Irineu Araújo Souza, s/n, QD. 38. LT05, bairro Jardim Eldorado, Nova Alvorada do Sul – MS. 

A presente edificação já se encontra construída e o sistema adotado para vedação, interna, externa e de forro, foi de gesso acartonado e placa cimentícia. As áreas do prédio são:

Pavimento térreo: 135,63 m²;

Pavimento Superior: 166,70 m²;

Área total: 302,33 m²;

Pé direito para os dois pavimentos: 2,90 m;

Metragem total das paredes de vedação externa e interna: 546,53 m²;

A estrutura do prédio é pré-moldada em concreto armado e a fundação executada com estaca Strauss.

Pavimento Térreo
Pavimento Superior
Foram contratados quatro montadores para a instalação completa do drywall na estrutura e o tempo de execução foi de cerca de vinte dias, entregando todas as paredes e forro prontas para pintura.

Paredes internas em gesso acartonado

Parede e forro interno em gesso acartonado.
 
Paredes de vedação já concluídas, com aplicação de grafiato.
Fachada da edificação já com aplicação de grafiato.
Para execução das paredes em gesso acartonado e placa cimentícia, foram utilizados os seguintes materiais, com suas respectivas quantidades:

 - Placa de gesso acartonado Standart nas dimensões de:

* 1,80m x 1,20m x 12,5mm de espessura: 369,58 unidades.

- Montante de aço zincado de 70mm: 405,99 barras de 3 metros.

- Guia de aço zincado de 70mm: 149,96 barras de 3 metros.

- Placa cimentícia nas dimensões de:

* 2,40m x 1,20m x 8,00mm de espessura: 98,12 unidades.

- Massa de gesso para acabamento: 11,40 baldes de 30 kg cada.

- Massa cimentícia para acabamento: 24,23 baldes de 5 kg cada.


- Os demais acessórios, como parafusos e fitas, são irrelevantes no peso final da estrutura e são utilizados conforme a necessidade.


  • Caso as paredes de vedação fossem feitas com tijolo cerâmico:

De acordo com o TCPO (Tabela de Composições de Preços e Orçamentos) 13ª edição da PINI, segue o material necessário para execução de uma alvenaria de vedação:

Tijolo Cerâmico:

- Bloco cerâmico furado de vedação 09 x 19 x 19 (altura: 190 mm / comprimento: 190 mm / largura: 90 mm): 14.045,82 unidades.

Argamassa de assentamento mista de cimento, cal hidratada e areia sem peneirar, no traço 1:2:8, e = 12mm:

- Areia lavada tipo média: 9,00 m³

- Cal hidratada CH III: 1.342,82 kg

- Cimento Portland CP II – E – 32 ( Resistência: 32,00 MPA): 1.342,82 kg

- Argamassa total: 7,38 m³

Argamassa para Chapisco de parede interna e externa com argamassa de cimento e areia sem peneirar no traço 1:3, e= 5 mm:

- Areia lavada tipo media: 6,67 m³

- Cimento Portland CP II – E – 32 ( Resistência: 32,00 MPA): 2.656,14 kg

- Argamassa total: 5,46 m³

Argamassa para Emboço de parede interna mista de cimento, cal hidratada e areia sem peneirar, no traço de 1:2:8, e = 20mm:

- Areia lavada tipo média: 13,33 m³

- Cal hidratada CH III: 1.989,37 kg

- Cimento Portland CP II – E – 32 ( Resistência: 32,00 MPA): 1.989,37 kg

- Argamassa total: 10,93 m³

Argamassa para Emboço de parede interna mista de cimento, cal  hidratada e areia sem peneirar no traço 1:2:6, e = 20 mm: 

- Areia lavada tipo média: 16,67 m³

- Cal hidratada CH III: 3.320,16 kg

- Cimento Portland CP II – E – 32 ( Resistência: 32,00 MPA): 3.320,16 kg

- Argamassa total: 13,66 m³

Argamassa para Reboco de parede interna e externa com massa pré-fabricada, e = 5 m:

- Argamassa pré – fabricada para revestimento interno: 465 sacos de 20 kg.

  • Cálculos das Cargas Sobre a Estrutura
- DRYWALL

Gesso acartonado:
Para a realização dos estudos de cargas com o gesso acartonado, primeiro foi necessária a obtenção de uma tabela de pesos normalizada, conforme a NBR 14.715:2001, NBR 14.716:2001 e NBR 14.717:2001.

De acordo com a tabela e medições feitas em laboratório, além da dimensão da placa de gesso acartonado adotada na construção da edificação, obtêm-se as seguintes informações:

Placa de 1,80m x 1,20m x 12,5mm = 2,16m ² = 18,04 kg

De acordo com o número total de placas em gesso acartonada utilizadas na edificação, 369,58 unidades, chega-se ao seguinte peso:

369,58 placas x 18,04 kg/ placa = 6.667,22 kg

Placa Cimentícia:
Conforme o quadro 6, apresentado anteriormente, determina-se o seguinte peso para as placas cimentícias adotadas na edificação:

Placa 2,40m x 1,20 m x 8,00 mm = 39,2kg/ placa.

Logo, considerando o total utilizado na execução de 98,12 placas, obtêm-se:

98,12 placas x 39,2kg/ placa = 3.838,45kg

Perfis de Aço:
A NBR 15217:2005 – Perfis de aço para sistemas construtivos em chapas de gesso para drywall – Estabelece os seguintes pesos para perfis metálicos.

Montante de 70 mm = 1,650 kg/ barra de 3 metros

Guia de 70 mm = 1,410 kg/ barra de 3 metros.

Desta forma, considerando os seguintes quantitativos para a edificação:

Montante de 70 mm = 405,99 barras de 3 metros

Guia de 70 mm = 149,96 barras de 3 metros.

Logo, determinam-se os seguintes pesos:

405,99 barras x 1,650 kg/ barra = 669,88kg

149,96 barras x 1,410 kg/ barra = 211,44kg

Massas para acabamento:
Considerando a massa de gesso e cimentícia fornecidas pela a empresa PLACO®, dispõe-se dos seguintes pesos:

01 balde de massa de gesso comum = 30 kg

01 balde de massa cimentícia = 05 kg

Por meio dos quantitativos utilizados no acabamento da edificação em questão, tendo como valores:

Massa de gesso comum = 11,40 baldes de 30 kg

Massa cimentícia = 24,23 baldes de 05 kg

Obtemos os seguintes pesos:

11,40 baldes x 30 kg/ balde = 342,00 kg

24,23 baldes x 05 kg/ balde = 121,15 kg

- ALVENARIA DE TIJOLO CERÂMICO

Conforme dados retirados do TCPO, citado anteriormente, além dos pesos específicos de cada argamassa e peso unitário dos blocos cerâmicos, é possível obter os valores finais de carga sobre a estrutura.

A NBR 6120:1980 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações – Oferece os pesos específicos por metro cúbico de alguns elementos da construção civil.

Tijolos cerâmicos de 8 furos:
Dados obtidos de acordo com medições em laboratório de tijolo vendido na região de Campo Grande - MS:

01 tijolo = 2,50 kg

Com base na quantidade utilizada na edificação, obtêm-se o seguinte peso:

14.045,82 tijolos x 2,50 kg/ tijolo = 35.114,55 kg

Argamassa de assentamento:
Como a argamassa foi composta de cimento, cal e areia, a norma estipula o seguinte peso específico para a mesma:

01 m³ de argamassa = 19 kN/ m³ = 1.937,46 Kg / m³

Com base na quantidade utilizada na edificação, obtêm-se o seguinte peso:

7,38 m³ x 1.937,46 kg/ m³ = 14.298,45 kg

Argamassa de chapisco:
Como a argamassa foi composta de cimento e areia, a norma estipula o seguinte peso específico para a mesma:

01 m³ de argamassa = 21 kN/ m³ = 2.141,4 kg/ m³

Com base na quantidade utilizada na edificação, obtêm-se o seguinte peso:

5,46 m³ x 2.141,4 kg/ m³ = 11.692,04 kg

Argamassa para emboço:

Interno
Peso específico estipulado em norma:

1.937,46 kg/ m³

Baseado no quantitativo utilizado:

10,93 m³ x 1.937,46 kg/ m³ = 21.176,43 kg

Externo
Peso específico estipulado em norma:

1.937,46 kg/ m³

Base no quantitativo utilizado:

13,66 m³ x 1.937,46 kg/ m³ = 26.465,70 kg



Reboco:
Como o reboco consiste numa massa básica de acabamento, a fim de se agilizar o processo, foi utilizada argamassa pré-fabricada, distribuída em sacos de 20 quilos, conforme apresentado abaixo.


465 sacos de 20 kg cada = 9.300,00 kg

 - RESUMO

Segue abaixo uma tabela resumindo as massas (pesos) gerais de cada sistema:


Através da tabela, observa-se uma diferença de 89,96% entre a alvenaria de tijolo e o drywall em relação ao peso oferecido sobre a estrutura.


  • Comparativo Financeiro
Como este trabalho é de 2012, os valores estão desatualizados em relação à data atual (2017), porém, vale-se a leitura a fim de verificarmos a proporcionabilidade entre os valores.


Através da tabela do SINAPI, do mês de agosto de 2012, e estudo de valores locais para a cidade de Campo Grande – MS é possível determinar as diferenças financeiras ao investir em ambos os sistemas construtivos abordados.

Os valores são expostos em reais e indexados com base no salário mínimo brasileiro vigente de R$ 622,00. (DECRETO 7.655, DE 23/12/2011).

Para uma melhor análise, o comparativo foi dividido em duas etapas: valor de mão de obra e valor dos materiais, apresentado na tabela abaixo:


Com base nos resultados apresentados na tabela acima, observa-se uma diferença de R$ 17.598,27, ou 28,29 salários mínimos, a favor do drywall. Isso equivale a um custo menor em 68,22% em comparação à alvenaria.

Os valores dos materiais foram divididos em duas tabelas detalhadas de cada sistema construtivo.

Para a elaboração do comparativo entre os materiais, foi necessária a utilização das tabelas do TCPO para se obter o quantitativo de insumos referentes aos sistemas adotados de vedação. 

De posse dos quantitativos, o uso das planilhas do SINAPI MS foi essencial para a obtenção dos valores unitários de cada item, sendo apresentados nas tabelas abaixo:

Drywall:

Alvenaria de Tijolo Cerâmico:

Através das duas tabelas, observa-se uma diferença de R$ 9.312,29, ou 14,97 salários mínimos, a favor da alvenaria estrutural.

Somando-se a mão de obra com o material, consegue-se o comparativo final entre os dois sistemas de vedação estudados, conforme a tabela abaixo:


De acordo com os dados da tabela acima, é visível a diferença de R$ 8.285,98, ou 13,32 salários mínimos, a favor do Drywall, ou 17,65%.


  • Conclusão
Caso você tenha acessado o TCC completo (aqui), verá que foram realizados outros comparativos, como o tempo de execução, resistência ao fogo, resistência à umidade, isolamento acústico e térmico, resistência à esforços, praticidade e produção de resíduos. Certamente não há espaço para expor tudo aqui, mas basta compararmos inicialmente as duas etapas abordadas e analisar cada caso.

  • Sobre o comparativo de cargas
Com 89,96% de diferença entre o peso oferecido pela a alvenaria de tijolo e o drywall, percebe-se o quanto isso reflete no peso total da estrutura e, consequentemente, em outras etapas da obra, como a fundação e a estrutura, onde temos a liberdade de trabalhar com fundações mais simples e econômicas, assim como vigas e pilares de dimensões reduzidas. 

  • Sobre o comparativo financeiro
A diferença principal no quesito financeiro foi encontrada no valor da mão de obra, onde no drywall se utiliza menos funcionários para um mesmo período de tempo de obra. Na questão do material, é importante destacar que a perda ou desperdício é muito menor no drywall, se comparado com a alvenaria de tijolo cerâmico.

Vale ressaltar uma informação importante, não apontada neste trabalho: No caso, não foi considerado o frete para entrega dos materiais do drywall, pois o mesmo não foi cobrado nessa obra em especial, devido ao elevado quantitativo adquirido. No entanto, nem sempre é possível contar com esse "agrado" por parte da empresa, principalmente por se tratar de uma cidade pequena do interior do estado, onde o acesso à este tipo de material é mais difícil e limitado. 

Outro ponto importante é sobre os profissionais contratados para executar o drywall, que vieram da capital e se hospedaram em hotel até a conclusão da obra. Esses valores também não foram considerados no trabalho em questão.

Por fim, deixo bem claro que todos os dados apontados aqui são reais e baseados em valores obtidos na minha região, assim como de fontes oficiais, como o SINAPI/ MS. 

Não se pode utilizar as porcentagens financeiras apontadas aqui para comparativos em todo o território brasileiro, pois cada caso pode variar, porém, as porcentagens sobre as diferenças de cargas são praticamente únicas, variando muito pouco de fabricante para fabricante. 

Agradeço imensamente pela sua leitura e atenção e deixo aqui um incentivo à você estudante ou profissional, para que não se prenda à tabus e mesmices, procurando por si mesmo realizar comparativos e testes antes de tirar suas conclusões sobre sistemas novos e modernos.

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